Técnica de Pintura em Camadas

Já mencionamos em artigos anteriores a diferença entre as técnicas diretas e indiretas. Numa breve recapitulação, poderíamos afirmar a grosso modo, que a técnica direta é quando o pintor adiciona suas cores ao suporte de modo a intercalar pincelada ao lado de pincelada, de forma que “finaliza” por inteiro uma área de pintura enquanto a tinta ainda está “molhada”. O pintor pode também, enquanto as cores estão “abertas”, ou “molhadas”, obter transições mais suaves entre as cores quando com um movimento do pincel mescla duas cores ou valores diferentes, obtendo uma transição “difusa” entre elas. Essa abordagem da técnica direta, também chamada alla prima, costuma apresentar “efeitos” de pinceladas muito expressivos, vivos, que enaltecem a própria natureza idiossincrática da pintura, chamado de sprezzatura na Itália. 

 

 

 
Lucian Freud, Pintura Alla Prima, \”Lying by the Rags\”, 1989/90.
 
 
1. Estágios
O método indireto, funciona em estágios. Compreendendo uma abordagem mais clássica, geralmente associada a pintura da antiguidade. Nesse caso, o artista espera que cada etapa esteja semi-seca, o que lhe proporciona aproveitar uma certa “relutância” das pinceladas pois o estágio anterior ainda está “grudento”, ou pode esperar que o estágio anterior esteja completamente seco, se preferir que a superfície não afete o modo como o pincel desliza na superfície. O método indireto proporciona efeitos diferentes do método direto. De forma geral, as pinturas feitas com essa abordagem clássica são caracteristicamente lisas, sem volumes criados pela quantidade abundante de tinta, em alguns casos no entanto, isso pode ocorrer nas luzes mais intensas, enquanto o meio tom e as sombras permanecem lisos. 

 

Um dos adjetivos recorrentes geralmente associado a pintura indireta é “contida”, uma alusão a sua característica pouco expressiva quando falamos de pincelada. Isso é notável em várias pinturas, onde a “mão” do pintor praticamente some da obra, tamanha é a dificuldade em se detectar o característico arrastar de tinta do pincel. A construção em camadas funciona através da soma das mesmas, uma camada interfere opticamente em outra. O resultado da pintura é um conjunto de camadas que somadas apresentam um “efeito” pictórico. Alguns artistas acreditam que essa abordagem pode surtir uma grande ilusão de profundidade, e certamente isso é verdade nas obras de muitos pintores antigos da escola flamenga, holandesa, italiana e francesa.

A incidência de luz numa pintura em camadas “volta” aos olhos do observador de maneira diferente do método direto, a refração funciona de outro modo.É uma abordagem mais recente, portanto associada aos artistas da “virada” da antiguidade para a modernidade, e usado popularmente pelos impressionistas e todos os movimentos que vieram depois disso. É interessante notar que alguns artistas excepcionais da antiguidade já se “soltavam” de modo um pouco mais expressivo criando em pinturas indiretas efeitos muito similares aos da pintura direta, mas esses, eram uma minoria privilegiada com talento único, assim como Velásquez. Também é possível, a criação de um \”misto\” entre as duas técnicas, geralmente feito através de uma pintura inicial alla prima, e camadas posteriores de pintura indireta.

 

Gabriel Metsu (circa 1640): Ausência de Pinceladas.
 
Não se trata de melhor ou pior, pois ambas as abordagens possuem funções, efeitos e metodologias específicas, ficando a cargo do artista qual delas é a mais indicada para seu trabalho. Certamente, a “expressividade” tornou-se uma busca importante ao pintor num ponto da história da arte, e o método direto passou a ser o mais usado. No entanto, expressividade pode ser um termo deveras subjetivo. Se considerarmos que a pincelada solta e aparente enaltece a obra em sua condição de pintura, a afirmação de que o método direto é mais expressivo certamente é verdadeiro, pois as pinceladas são generosas e facilmente percebidas. Mas a expressividade também pode estar enaltecida pela ilusão de profundidade, obtida pelas relações de valores, no método indireto, assim como no uso da cor.

 

O método de pintura indireta desapareceu das galerias, justamente pela popularidade de conferir expressão com pinceladas soltas e muito visíveis, assim como expressividade em cor ou composição. É notável como o pintor contemporâneo sente dificuldade em entender as premissas básicas da abordagem indireta. De alguns anos para cá, alguns pintores de muito talento estão novamente usando essa estética clássica, e um novo despertar se torna emergente. Aqueles que desejam experimentar a abordagem dificilmente encontram material bibliográfico que explique de forma clara as premissas básicas da técnica. A técnica indireta usa de alguns procedimentos engenhosos, todos relacionados ao comportamento dos pigmentos e ao modo como a tinta é adicionada ao suporte, raramentedetalhados de forma clara em publicações. Explico abaixo algumas dessas premissas, na esperança de que esse material possa ser de auxílio ao pintor que deseja investir nessa abordagem. Divido esse artigo em três partes, pois o conteúdo é extenso.

2. Características dos Pigmentos
Aqueles que desejam verdadeiramente dominar a abordagem devem entender melhor as características inerentes a cada pigmento. Em artigos anteriores, expliquei brevemente essas diferenças. De maneira geral, os pigmentos possuem inúmeras características, mas a opacidade ou transparência são fundamentais para a pintura indireta. O pintor que deseja, como exemplo, pintar uma área azul de modo transparente deve recorrer ao Azul Ultramar, um pigmento muito transparente. Se recorrer a um azul opaco, estará perdendo tempo considerável numa luta contra uma ferramenta inadequada. Existem azuis transparentes com diferentes temperaturas e intensidades chromáticas, como os azuis a base de ftalocianina. É uma questão crucial que o pintor saiba as diferentes características de suas tintas e use isso racionalmente no planejamento de sua pintura. Na pintura indireta, cor, temperatura e opacidade devem ser julgados previamente, para que o artista não lute contra as dificuldades dos materiais. Isso ficará evidente mais adiante.

3. Uso de Medium com o Método
O assunto do medium é sempre extremamente popular entre os pintores, e artistas costumam ter calorosas discussões sobre isso. Já discuti em detalhes, num post anterior, sobre esse assunto, portanto comentarei resumidamente alguns pontos que julgo importantes. Embora muitos pintores usem medium para dar transparência a tinta, não recomendo que seja usado para essa finalidade (transparência). Um medium é feito sempre com algum óleo vegetal e outros possuem resinas e agentes metálicos. Adicionar mais óleo a tinta, ou resina, simplesmente para obter maior transparência é uma opção e não uma regra. É perfeitamente possível pintar sem o uso de medium. A maioria das cores possui uma versão transparente, e aplicando a tinta com métodos adequados é possível alcançar inúmeras intensidades de transparência sem uso de qualquer medium. O medium tem a função de modificar o comportamento da tinta ao seu arrastar, ou quando desejamos mais aderência, ou outra propriedade reológica e não exclusivamente transparência. Promover o uso mínimo e correto do medium é um excelente meio de garantir longevidade a obra.

4. Técnicas de Pintura Indireta
Os principais meios de se obter gradações de valor e chroma com a tinta estão relacionados, na pintura indireta, com a construção de finas camadas transparentes ou semi-transparentes de tinta, que combinadas, apresentam um delicado jogo de valores. Mas como isso acontece em termos práticos? De que forma deve se carregar o pincel e usá-lo numa pintura? É isso que discutiremos na segunda e terceira parte desse artigo.

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BIBLIOGRAFIA
THOMPSON, Daniel V. The Materials and Techniques of Medieval Painting; Dover; New York.
LAURIE; A.P.; The Painter´s Method´s and Materials; Dover; 1967. DOERNER; Max; The Materials of the Artist and Their Use in Painting; 1921.
MAYER; Ralph; Manual do Artista; Martins Fontes; 1950; 1957 e 1970.
EASTLAKE; Sir Charles Lock; Methods and Materials of Painting of the Great Schools and Masters; Dover; 1847

48 Comments

  1. Pinto há 30 anos como profissional, tenho vários livros de pinturas nacionais e estrangeiros e nunca encontrei material desse calibre nas livrarias. suas explicações são diretas, claras, sem rodeios e é óbvio seu domínio no assunto. Vale mais a pena ler seu blog do que investigar livros nas livrarias. Sigo o cozinha da pintua desde dezembro e já nem sinto necessidade do amual do artista e de outros livros que paguei caro! Naum vejo a hora da conclusão do último artigo.

  2. Fico contente com seus elogios Carlo, mas recomendo sempre que busque informações de todos os modos possíveis. Não somente aqui na Cozinha, mas também em outros sites e publicações. Há material abundante em todas as línguas, seja em papel ou na internet. É sempre bom cruzar as informações e tirar suas próprias conclusões. Portanto, continue SIM usando seu Mayer e outros livros. Um abraço!

  3. Reitero as palavras do Carlo. Seu blog é mais ou menos como aquele livro raro que encontramos em uma boa livraria e que se não temos como comprar na hora ou se esquecemos o cartão de crédito em casa, o guardamos lá atrás de todos os outros pra ngm chegar antes e comprar até voltarmos e o levarmos para casa. A minha pintura em óleo é totalmente DIRETA e o engraçado é que a outra técnica que uso, a acrílica, se assemelha muita a técnica INDIRETA sendo que obviamente, sem o tempo de secagem, mas parecida nas camadas finas e transparentes.No óleo prefiro o efeito do pincel e a união das tintas no ato de pintar. Sinto mais a expressividade assim. Você esta certo, não técnica certa ou errada e sim preferências.Aguardamos ansiosos pela continuidade do seu post e agradecendo imensamente mais uma vez a sua solicitude de conhecimentos para com o mundo da arte. Forte abraço.

  4. Olá Marcio!Estou especialmente interessado em ler mais sobre isso…\”…É perfeitamente possível pintar sem o uso de medium. A maioria das cores possui uma versão transparente, e aplicando a tinta com métodos adequados é possível alcançar inúmeras intensidades de transparência sem uso de qualquer medium…\”Confesso que obtive péssimos resultados sem medium quando o assunto é transparencia.Como sempre exelente post, aguardo ansiosamente o próximo!E concordo com o Carlo, o material disponibilizado aqui é superior ao encontrado nas dezenas de livros que já comprei, nas mais diversas linguas!rs

  5. Celso, obrigado, mais uma vez, pelos seus elogios exagerados! Entendo que a maioria dos pintores não gostem de esperar tanto tempo pelas camadas que demoram a secar. Mas existe um certo charme na \”limpeza\” das cores e no isolamento das etapas que o método indireto proporciona que é muito agradável. Acredito que seja possível, com um pouco de experiência, alcançar resultados MUITO similares com a acrílica. Voce pinta com empastes quando usa o óleo justamente por saber que a \”graça\” do meio é justamente essa,quer dizer, a pintura a óleo NASCEU para o empaste, assim como a aquarela nasceu para a \”aguada\”. A segunda parte desse artigo é bem mais esclarecedor, sendo essa primeira parte apenas uma introdução para o verdadeiro objeto de estudo. Um abração!

  6. Meu amigo Leonardo, agradeço seus elogios. Já deu pra notar que a maioria dos leitores do Cozinha além de generosos são um tanto exagerados! rss… Existem inúmeras publicações excelentes, principalmente as mais novas. No entanto, acho mais interessante os artigos científicos, pois eles são mais abundantes do que os livros, e por isso, saem com maior frequência, para não falar da importância de um estudo cartesiano e de fatos empíricos que uma publicação científica é obrigada a apresentar.Começei a escrever aqui uma resposta a voce, mas acabei desistindo pois tenho certeza de que haverá uma luz extra jogada sobre o assunto na segunda parte desse post.Talvez seu problema seja o uso de um medium inadequado. Já conseguiu bons efeitos de transparencias usando somente tinta. Assim como já vi dezenas de pintores fazendo o mesmo. Tenho certeza que voce conseguirá o mesmo resultado. Abraço!

  7. Durante um bom tempo fiquei procurando me adaptar a uma \”forma de fazer\” que parecesse mais contemporânea. Só com o tempo a gente aprende que não existem fórmulas e sim boas intenções. Foi visitando suas páginas que refiz a minha própria imagem.

  8. Dimaz, obrigado pelo comentário. Seja sempre bem vindo! Gostei de suas aquerelas, mas não consegui achar trabalhos a óleo em seu blog! Abraços!José, agradeço! As vezes tentar se adaptar pode ser forçado. Isso acontece com muitos artistas. Essa \”forma de fazer\” contemporânea tem que ser algo natural e não uma \”sacada\”. Conheço muitos artistas que claramente usam de \”sacadas\” para ter um trabalho mais \”contemporâneo\”. Não é natural. Diria que o correto, seria fazer exatamente o que gosta. É exatamente como voce diz… não existem formulas. Um forte abraço!

  9. Parabéns, Parceiro! Excelente post!Acho que quem tinha dúvidas sobre os 2 procedimentos, com toda certeza, não tem mais!Eu, particularmente uso os 2, porém, prefiro o método indireto.grande abraço, Márcio!

  10. Paulo, com absoluta certeza, voce é um dos melhores artistas brasileiros que faz uso do método indireto. A abordagem é muito mais comum na Europa e principalmente nos EUA. Um abração parceiro!

  11. Obrigado pelas palavras, Marcião!Realmente, hoje, os EUA é o país da pintura. Os americanos produzem muito mais material artístico, vídeo-aulas e conteúdo didático que qualquer outro país no mundo! Além disso, eles têm um \”arsenal\” de grandes artistas pintores vivendo e produzindo lá.Temos que nos unir para que a cena cresça no Brasil! O Cozinha tem contribuído muito para isso!Márcio, obrigado pela sua “valiosíssima contribuição”!Abraço

  12. O mérito é seu Paulo. Realmente, em termos de pintura contemporânea, principalmente pra voce que gosta de realismo, os EUA é o país líder desde os anos 70. A China conquistou o segundo lugar da lista nesses últimos 10 anos, quem diria!A verdadeira contribuição são dos artistas Paulo! Tem muita gente por aí fazendo um trabalho com o mesmo nível dos americanos, assim como voce, Paulo Frade, ainda temos o Alexandre Reider, Maurício Takiguthi, Celso Mathias, Leonardo Climaco, Vinícius Silva, José Rosário, Luiz Sôlha, Sérgio Niculitcheff, Mario Ucci, Rodrigo Cunha, André Rodrigues, Wagner Willian e isso só pra falar dos artistas com quem tenho algum contato…E isso por que a pintura está morta! Imagine se ela não estivesse enterrada! Um abração!

  13. Sr. Márcio, o material da Cozinha que está online dá um bom livro de materiais de pintura. Por que naum publica numa editora? Com a falta de material nacional, esse conteudo ficar disponivel só na internet é uma dó. Queria aproveitar e parabenizar o pintor Alexandre Reider pelos seus lindos trabalhos! Não conhecia suas pinturas. Acabei de ver o seu website. Também faço paisagens.

  14. Oi Carlos. Acho a idéia muito interessante, já pensei nisso algumas vezes, mas meu objetivo por enquanto é permanecer no campo acadêmico, continuar minha pesquisa científica dentro das faculdades, na linha de pesquisa de Artes Visuais. Se algum de meus artigos científicos por ventura tiver solidez o bastante para ser publicado, certamente seria um bonus, mas por enquanto, pretendo continuar focado na pesquisa. O Alexandre é um pintor de primeira linha, uma referência em SP e no Brasil dentro de sua área de expertise, a paisagem. Aliás, a família Reider tem tradição nessa categoria, sendo que seu avô já havia alcançado grande sucesso entre sua geração. Fico contente que tenha descoberto seu trabalho! Um abraço!

  15. campinhodecarvalho disse… Rosário, vou copiar você, rsrs (com a permissão do márcio, é claro!). vou postar no facebook esta sequência de artigos fantásticos. gosto muito dos livros que tenho do assunto, mas acho que o cozinha da pintura é algo bastante útil.num livro temos a dificuldade de retorno num caso de dúvidas e lá podemos entrar em contato com o autor e trocar informações com ele. até porque já percebi que o márcio costuma retornar os comentários postados. o \”cozinha\” passará a ser meu \”blog de cabeceira\” se alguém ainda não inventou esta expressão! abraço, paulo. márcio:reitero o valor deste blog o qual passarei a acompanhar sempre. espero que não se incomode de postá-lo para sua maior divulgação.paulo

  16. Tem toda a minha permissão para \”copiar\” o José, Paulo! Agradeço suas palavras generosas. Aliás, tenho muita sorte em receber leitores como voce Paulo, deveras generosos. Costumo responder a praticamente 100% dos comentários ou e-mails, é verdade. As vezes, costumo demorar um pouco, mas quase sempre respondo no mesmo dia.Voce pode postar o link para os artigos sem problemas. Seja muito bem vindo Paulo! Um abraço!

  17. Esta é a terceira vez que venho a página deste post, mas agora estou munido de caderno, lapis, tintas e tubos de oléo aqui. Não basta ler, tem de praticar né!Então não vou postar duvida não, só tô postando mesmo pra parabenizar e agradecer a ótima introdução.Seu metodo de blogar está melhorando bastante, e como todo mundo que já falou antes, se o Cozinha da Pintura virasse livro eu comprava!!!!Grande Abraço e deixa eu correr pra ler as outras partes = )

  18. Oi Márcio!Li as três partes desse artigo. Parabéns pela abordagem clara e objetiva do assunto! Imprimi o artigo completo para tê-lo à mão no meu pequeno atelier…Após ler o texto, sinto que dissipei uma série de dúvidas da minha cabeça. Peças que eu, até então, não estava conseguindo juntar!Tive três professores de pintura e percebi que cada um tinha seu próprio método. Dois deles trabalham com veladuras, o terceiro usa o método direto. Mas mesmo com as veladuras, nunca consegui uma explicação consistente sobre o uso da técnica. Vc me proporcionou isso! Obrigada!Abraços,Luciana

  19. Oi Luciana. Fico muito contente que o artigo tenha ajudado voce. Agora, uma coisa é verdade: ler os conceitos e entender a teoria é uma coisa. Praticá-los na prática é uma outra… mas é claro, não é a coisa mais difícil de mundo. Pelo contrário. Com algumas tentativas e alguns erros, pode-se entender melhor a prática e rumar para acertos. Boa pintura! Abraço!

  20. Olá, Márciotenho seguido seu blog religiosamente. Deus te abençoou com o dom da didática, porque o jeito como vc explica as coisas é fantástico. Muito inteligentemente bem explicado. Parabéns.Tentei fazer um retrato a óleo, com alto grau de contraste claro-escuro. Ficou bom. Contudo, ao tentar reforçar as sombras mais escuras, passei tinta preta sobre uma base quase preta, já seca. conforme foi secando, essa última camada ficou opaca. Pensei que talvez o pincel estivesse com vestígios de cores claras, ou que talvez restasse nele querosene com o qual o lavei. Então passei outra camada de preto com um pouco de óleo de linhaça puro. Não adiantou, pois essa camada também ficou horrivelmente opaca ao secar. Meus escuros estavam tão lindos, brilhantes… Amigão, como faço para consertar? Existe algum verniz ou procedimento que corrija? Um abração e que Jeová continue abençoando vc e família com muita saúde e paz.

  21. Olá Cristian! Muito obrigado pelas palavras generosas! Fico muito contente.Quanto a seu problema: Em primeiro lugar, o Preto de Marte é um pigmento que costuma ser mais opaco do que os outros pretos, portanto, talvez seja melhor usar um outro preto ao invés do Preto de Marte. Uma outra questão que também pode influir é o uso de muito secante, que costuma tirar o brilho do filme. Em terceiro lugar, se voce usar um suporte excessivamente absorvente (com MUITO gesso), é possível que o mesmo tenha absorvido muito óleo.Uma maneira de devolver um pouco do brilho é esfregar gentilmente um pouco de óleo de linhaça nas áreas opacas, e retirar o excesso com um pano limpo, e esperar secar.Não use mais querosene para limpar os pincéis, pois possui traços de inúmeras substâncias que não são boas de se misturarem com a tinta, além de acabar com os pincéis. Voce pode usar terebentina para tirar o excesso de tinta e um pouco de água morna com detergente neutro para terminar a lavagem dos mesmos. Abraço!

  22. ola Marcio, sou apaixonado sobre pintura indireta, mas ainda tenho muitas e muitas duvidas…qual a diferença pratica de se trabalhar sobre uma camada competamente seca ou semi seca? realmente a tinta estando semi seca causara essa relutancia a q vc se refere pois ficara mesmo \”grudenta\”… mas isso é desejavel em q circunstancias por exemplo? pois penso q esse meio termo possa ser desastroso em algumas situaçoes nao? outra coisa… eu tenho um amigo q diz pintar por camadas, mas diz nao usar velaturas e disse pra eu nao confundir velatura com camada… embora eu concorde em partes com isso, no caso uma camada nao chega a ser quase sinonimo de velatura? digo isso pq mesmo nao usando um procedimento formal pra se fazer uma velatura, a tinta oleo é transparente por natureza, ou seja, uma camada posterior acaba funcionando como uma velatura de qualquer forma nao é? a menos é claro q seja uma camada suficientemente espessa pra ser totalmente opaca… obg pela paciencia! abs

  23. Olá anônimo… muitas, muitas perguntas! É simples: as velaturas são camadas transparentes ou semi-transparentes de tinta, e nunca opacas. É possível pintar em camadas sem o uso de velaturas. \”A tinta óleo é transparente por natureza\” na verdade não é uma afirmação totalmente certa: a tinta óleo TORNA-SE transparente com o tempo, a longo prazo, e dependendo da espessura com que pintamos. Nem todos os pigmentos são transparentes por natureza, como o caso do bco de titâneo, cádmios, muitas terras e sombras. Uma camada posterior somente será uma velatura se for aplicada de modo a transparecer, ou por que é naturalmente transparente, ou se for aplicada de modo muito fino, com adição de medium, para também transparecer. Se aplicamos uma camada consideravel de óxido de cromo, certamente teremos uma camada posterior opaca, cobrindo a camada anterior, como voce disse ao final de seu comentário. Abraço!

  24. Tenho as seguintes dúvidas . Começo a pintar indiretamente com uma camada (imprimatura ) e posteriormente após a secagem da mesma vou acrescentando os elementos da pintura ? Como funcionam as veladuras e os grisaile não compreeendi como posso colocar em prática os método. ficou meio prolixo para eu que sou um entendedor leigo . Antecipadamente agradeço.

  25. Olá Anônimo. A pintura em camada é geralmente feita com tinta molhada sobre seca, e o uso de cores transparentes por cima de uma camada seca é uma velatura. Também é possível pintar molhado sobre \”semi-seco\”. O Grisaille é uma camada que ajuda a compor os valores quando posteriormente fazemos velaturas por cima do mesmo. Leia o artigo \”Técnica de Camadas II\”. Abraço!

  26. Meu Deus! Não bastasse um site rico de ensinamentos, vc ainda abre espaço para tirar tantas dúvidas com uma generosidade sem igual. Que o Mestre Maior te ilumine os caminhos e abençoe seu dom, te conservando sempre feliz para nos auxiliar nas nossas dificuldades. Com imensa admiração, parabéns!

  27. De grande valia para meu conhecimento as informações que publica em todo conteúdo da cozinha, seu vasto conhecimento contribui muito para praticantes da arte seja ela de forma amadora ou profissional, continuarei a ler sua página e buscar cada vez mais conhecimento. Parabéns pela iniciativa.

  28. Julio, o Branco de Zinco (puro) é o branco transparente que voce procura. O branco de chumbo é semi-opaco e o Titânio, opaco. Talvez a marca qe Branco de Zinco que voce use misture um pouco de Branco de Titânio e considere-o semi-opaco, mas não é usual considerá-lo semi-opaco. A grande maioria das empresas consideram esse pigmento como transparente. O Branco de Zinco é um pigmento com grandes tendências a craquelar, e é inclusive por causa desse fato que sempre há um pouco de Titânio no Branco de Zinco. Evite usá-lo puro. Use-o sempre misturado a outras cores.

  29. Olá, adorei este blog. Só o descobri agora. Obrigada pelos conhecimentos transmitidos.Queria saber o que você acha do medium liquin para óleo. Ninguém consegue me responder. Obrigada por nos ajudar.

  30. Olá, na sua resposta ao Cristian, voce sugeriu passar oleo de linhaça nas partes opacas, qual seria o óleo de linhaça adequado? Esse problema é o mesmo que em Ingles é chamado de ¨Sink¨? Muito obrigado e parabéns.

  31. Olá Patrício! Voce pode usar o óleo de linhaça refinado comum vendido nas lojas de materiais artísticos. Sim, é o mesmo que o \”sink in\” relatado em textos em inglês. Abraço!

  32. Olá Márcio, muito obrigado pela gentileza. Certeza que esse quadro do L. Freud é alla prima ? Impressionante! Abraço.

  33. Olá Márcio, desculpe insitir, mas li depoimentos dpos modelos sw L. freud, , que eram muitas as sessões de pose, como ele fazia para o óleo não secar? E quais seriam os estágios? E o método de W. de kooning de cobrir apintura c/ jornal – creio que molhado – para a tinta demorar mais para secar, procede? Obrigado, abraço.

  34. Ele não fazia absolutamente nada para o óleo não secar. Essas pausas entre uma sessão e outra, feitas por uma infinidade de artistas, podem ser curtas, significando uma retomada no dia posterior, quando a tinta ainda está molhada, como pode significar uma retomada uma semana depois, quando, ao menos no verão, a tinta já estará seca. Seja qual for o caso, o artista continuava a trabalhar por cima se virando da forma como podia, com a tinta seca ou molhada, pouco importava. A existência de \”pausas\” no processo, ou \”sessões\”, não é indício que se trabalhava molhado sobre molhado. O caso de Freud é sabido como um processo extremamente descomplicado e direto, sobretudo em suas obras do período tardio. As pequenas \”bolas de tinta\” que podem ser vistas em suas obras, provam que uma etapa anterior estava \”semi-seca\”, mas que o pintor continuou pressionando o pincel posteriormente, incomodando a película formada pela sessão anterior, formando as \”resíduos\” em questão, portanto, não preservou a etapa anterior. Isso denota sua atitude despreocupada. Os \”estágios\” de um artista que trabalha desse modo portanto, não podem ser definidos, por que é uma pintura de insight, direta, corajosa e absolutamente livre de exigências e regras técnicas. O artista não obedecia um percurso técnico tradicional, mas uma forma direta de aplicação hora molhado sobre seco, hora molhado sobre molhado, hora molhado sobre semi-seco. Enfim, é um enfrentamento muito mais pessoal, sem complicar com conceitos de camadas e preocupações técnicas. Era imensamente corajoso e despido de compromissos.Não entendo nada sobre técnicas que venham após o período dos Pré-Rafaelitas, tendo concentrado minha pesquisa em técnicas históricas. Freud é um dos poucos que fogem a essa regra. Portanto, não sei nada sobre de Kooning, mas acho improvável que o jornal molhado não borre a pintura, sobretudo se essa tenha impastos pesados. Mas é possível que no caso dele isso não fizesse muita diferença, incorporando os borrões na pintura. Lembre-se que a tinta óleo seca por oxidação e não por evaporação. O jornal molhado pode evitar o contato da tinta com o ar mas não creio que seja muito eficaz em diminuir o ritmo da secagem.

  35. Mestre, muito obrigado pela respósta. Eu achava que a pintura direta fosse sempre wet on wet e que pintar sobre tinta semi- seca rompendo a película fosse prejudicial a durabilidade do quadro. Quanto ao de kooning, realmente, como voce disse, o jornal – principalmente dos anos 50-60-70, com tinta mais solúvel que os atuais – se transferia p/ o quadro, e ficava incorporado. Obrigado pela paciencia. Abraço.

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