Medium de Pintura

 
 
O medium para pintura é uma substância que pode ser formada por vários materiais, com diversos graus de oleosidade e com diversas funções, servindo para alterar o comportamento original da tinta: tempo de secagem, oleosidade, viscosidade, elasticidade, aderência, alterando o modo como a tinta se aloja ou desliza ao suporte, criando efeitos visuais diversos. Os veículos sozinhos não são considerados mediums, embora o próprio nome em latim queira dizer veículo. Analisaremos a seguir, alguns veículos e mediums que podem ser usados para “cortar” a tinta a óleo, diluindo-a ou mudando suas características de alguma forma.

 

1. Solvente como “medium”
É comum encontrar praticantes que consideram a terebintina, ou solvente, como um medium. O solvente, que pode ser a terebintina, sansodor, ecosolv ou diversos outros nomes patenteados é primordialmente usado para diluir a tinta óleo, tornando-a mais “magra” e mais líquida, fazendo com que flua como se fosse uma aquarela, de modo transparente e sem deixar volume. Quando se usa somente o solvente misturado a tinta óleo, temos como consequência muitas marcas de pincéis, e é difícil controlar a tinta de maneira que possa ser obtido transições cromáticas suaves. Obtem-se um tempo menor para trabalhar com o pincel, pois as marcas e rastros feitos com a tinta diluída deixam uma “primeira impressão” que só é removida com um movimento enérgico do pincel de maneira a “esfumar” as marcas que se alojaram na parte “funda” do tecido. Sua segunda função é servir como mistura de outros mediums oleosos para torná-los mais líquidos, ou magros, principalmente aqueles que usam óleos muito espessos ou quantidades grandes de resina. Portanto, o solvente usado sozinho não é exatamente um medium, e seu uso sem adição de outras substâncias possui essa função específica.

2. Pintando sem Solvente
Alguns profissionais alertam sobre os “grandes perigos” dos solventes. Mas a verdade é que usando o bom senso, seu uso é perfeitamente seguro. Sempre mantenha o frasco de solvente bem fechado quando não em uso, e nunca deixe o frasco aberto, próximo a área de trabalho, enquanto estiver pintando. Faça o mesmo com os panos que foram umedicidos com solvente para a limpeza de pincéis: deixe-os fora do ateliê. O ateliê deve estar sempre ventilado, então, abra portas e janelas. É possível adquirir godês com tampas, caso voce use um godê de metal para medium. Procurar meios de não respirar a todo o tempo o solvente é fácil e literalmente evita quaiquer dores de cabeça.

Outra consideração a ser levada a sério: é perfeitamente possível pintar sem o uso do solvente. Já vimos que ele serve para diluir a tinta a óleo ou para deixar mediums densos mais líquidos. Portanto, quando não estiver buscando pinceladas marcadas ou caso seu medium já seja bem liquido, não há necessidade de seu uso. Se voce pinta de maneira direta, isto é, alla prima (sem uso de camadas) dificilmente o solvente (puro) terá alguma finalidade em sua pintura. Para limpeza dos pincéis também não é necessário seu uso, a água morna com sabão pode desempenhar uma limpeza maior e mais segura. É curioso como as pessoas tendem a seguir cegamente, sem nenhuma indagação, o costume de outras. Muitos pintores não necessitam de solvente, mas usam-o pois algum outro pintor o faz. O solvente possui uma função, se essa função não é útil para sua pintura, elimine-o de seu ateliê.

3. Óleo de Linhaça como medium
Outra prática comumente observadas em ateliês é o uso do óleo de linhaça como “diluente”. Alguns pintores desejam que a tinta “flua” com mais facilidade, portanto, acabam usando o óleo de linhaça para adicionar maior fluidez a tinta.

O óleo de linhaça ou qualquer outro óleo não são diluentes. Diluir quer dizer tornar mais fraco, mais ralo, e no caso específico da tinta á óleo, mais “magro”. Quer dizer, colocar menos óleo a mistura. Isso torna a adição de óleo de linhaça, com a “falsa função” de diluir, um engano. Diluir é papel dos solventes. A adição de mais óleo a tinta resulta no efeito contrário da diluição: torna a tinta mais “gorda”, mais oleosa, e embora ela “flua” com mais facilidade, há nesse caso uma carga exagerada, desbalanceada, na proporção óleo/pigmento.

Adicionar mais óleo a tinta é uma prática comum a aqueles que desejam o efeito contrário da diluição e desejam que as camadas de cima sequem mais devagar (por serem mais oleosas) e as de baixo sequem mais rápido (por serem mais magras), evitando que a pintura rache ou craquele. Mas nesse caso, é uma modesta adição. Essa é a famosa “lei” do “gordo sobre magro” e deve ser sempre seguida quando pintamos em “estágios” ou camadas. Portanto, use somente terebintina, ecosolv ou sansodor para diluir ou “afinar” a tinta.

4. Quando um medium se faz necessário
Tendo o artista/pesquisador entendido sobre as opiniões mais recentes da ciência sobre o material em questão, temos novas perguntas: Qual a função desse medium? Ele supre as funções necessárias para alcançar o efeito que procuro?

É importante lembrar que nenhum medium faz milagre ou fará com que alguém pinte melhor. As receitas geralmente possuem (ou pelo menos, deveriam) algum tipo de função específica, portanto, não escolha um medium por sua excentricidade, por parecer interessante ou por que alguém diz que é o medium usado por um grande mestre: primeiramente tente entender qual tipo de solução você precisa para sua pintura, e então procure qual medium é o mais adequado para cumprir essa função. Talvez você descubra que na verdade não precisa de medium nenhum, o que é uma possibilidade, sendo que uma quantidade imensa de artistas pintam somente com tinta e pincel, sem adição de quaisquer outros lubrificantes ou materiais, alcançando resultados excelentes. Na pintura, tudo tem uma função, você só precisa entender quais tipos de efeitos deseja em sua pintura, e quais são as ferramentas necessárias para efetuar esse trabalho.

 

5. A Lei dos “20%”
É importante ficar atento a quantidade de medium a ser usado num trabalho. A maioria dos mediuns amarela com o tempo, portanto, é necessário usá-los em pouca quantidade para que isso não aconteça. Além do amarelamento, o seu uso em abundância pode gerar laminamentos, rachaduras, craquelês ou até mesmo pouca aderência. Ao trabalhar com qualquer medium, a regra é de nunca adicionar mais do que 20% a sua porção de tinta. Siga esse procedimento: reserve na paleta a quantidade de tinta que julgar suficiente para sua seção de pintura, em seguida, baseado na quantidade de tinta reservada, adicione o que seria o correspondente a 20% de medium relativo a essa porção. Mantendo essa proporção medium/tinta você estará sempre dentro da margem de segurança.

Primeiramente, vamos analisar alguns mediums que são bem difundidos, e entender quais são suas funções, vantagens e desvantagens. Em posts futuros, vamos analisar outras receitas. Por hora, essas são as mais usadas, comprovadas pelo tempo de uso, com funções suficientes para os principais estilos de pintura .

6. Receitas
6.1. Nº 1 Medium Universal

2 partes de Óleo de Linhaça
1 parte de Terebintina (ou outro tipo de solvente)

Esse clássico é geralmente o primeiro tipo de mistura com a qual todo pintor tem seu primeiro contato. A mistura de óleo de linhaça e terebintina (ou outro tipo de solvente) é provavelmente o que chamaríamos de medium universal, o mais conhecido. Receitas para essa combinação são encontradas nas mais variadas proporções, a única regra, nesse caso, que não pode ser quebrada é a adição de mais partes de solvente do que de óleo. Muito solvente pode deixar sua tinta com pouco veículo, isto é, menor quantidade da substância que deveria “segurar” e manter o pigmento suspenso, ou “colado” ao suporte (tela). O principal fundamento da mistura é que quanto maior as partes de terebintina, mais “magro” e “líquido” será o medium, e quanto menos solvente, mais “gordo” e “denso” ele será. Imagino que seja muito popular pela sua simplicidade, e por que lubrifica a pincelada fazendo o pincel deslizar mais facilmente quando em contato com a superfície. É interessante notar que alguns pintores que trabalham numa superfície mais lisa (linho coberto por gesso acrílico, ou painel coberto por gesso acrílico) geralmente não sentem necessidade do uso de um medium, enquanto aqueles que pintam com contato direto com o tecido de algodão costumam precisar de algo que “suavize” essa ação, geralmente o caso da grande maioria, sobretudo os novatos. 

Portanto, quando tentamos alcançar um efeito ou um tipo de pintura, devemos lembrar que isso não é somente função de um medium, mas outras variantes podem entrar em jogo. Sempre questionei o motivo da adição da terebintina e por que não somente o uso do óleo. No caso dessa receita, acredito ser uma questão de mobilidade, pois o solvente funciona como um elemento que deixa a mistura mais “líquida”, menos oleosa, conferindo maior facilidade no “arrastar” da mistura. Portanto, é possível eliminar a terebintina da receita caso prefira um medium mais grosso. Também acredito que muitos pintores adicionam a terebintina, em alguns casos, para fazer a mistura “render” mais. Para aqueles que pintam obras de grande porte é necessário adicionar periodicamente um pouco mais de terebintina ao medium pois quando o jarro permanece aberto por muito tempo o solvente evapora rápido, alterando a consistência da receita original.

6.2. Nº 2 Medium Suavizante 
1 parte de Óleo de Linhaça
1 parte de Terebintina (ou outro solvente)
1 parte de Óleo de Linhaça Polimerizado ou Espessado ao Sol.

Certamente imaginamos que a maioria dos pintores prefere que o medium promova sempre grande mobilidade ao arrastar o pincel, dando maior fluidez. No entanto, isso nem sempre é verdade. Alguns artistas gostam de uma situação inversa, e sabem tirar proveito da característica “grudenta” de certos mediums. Essa “dificuldade de mobilidade” pode ser desejada a alguns pintores simplesmente pela “sensação” que ela dá enquanto se pinta. O óleo de linhaça espessado ao sol, assim como o óleo de linhaça polimerizado promovem essa maior dificuldade de mobilidade. Quanto maior as partes de quaisquer desses dois óleos no seu medium, maior dificuldade de movimento você terá ao manipular o pincel e ao arrastar a tinta. Mas não é somente esse “grudar” que ambos óleos promovem num medium. Igualmente importante é sua característica de nivelar as pinceladas, fazendo com que os sulcos deixados pelos pêlos do pincel na tinta desapareçam. Esse efeito de “dispersão” também promove uma maior profusão das cores, tornando mais fácil a tarefa de obter degradês e gradações de tons mais suaves e sutis.

Esses dois óleos são altamente úteis para pintores que desejam uma pintura lisa, acadêmica, e aqueles que não desejam efeitos de empaste. Dividir as partes de óleo entre óleo de linhaça e óleo de linhaça polimerizado (ou espessado ao sol) pode aumentar a mobilidade deixando o medium menos grudento, e ainda assim conservar sua funcionalidade niveladora. É importante ter em mente que ambos, quando usados em demasia, costumam secar enrugando totalmente a película que se forma, portanto é aconselhável usá-los em proporções ideais com os pigmentos ou tintas. Entre os óleos que amarelam menos, depois de secos, o óleo polimerizado é o primeiro da lista. O óleo espessado ao sol costuma ser um dos óleos mais claros que se pode encontrar quando ele acaba de ser processado, mas recupera em pouco tempo sua cor amarela, principalmente se for conservado longe da luz. O fenômeno também ocorre quando o óleo ainda não foi usado, dentro de jarros, ou depois que está seco, já misturado com a tinta.

É comum encontrar textos antigos onde o artista aconselha que a tela seja exposta ao sol por alguns minutos caso tenha ficado muito tempo longe da luz, justamente por esse fenômeno. De acordo com minhas experiências, nunca notei um nível preocupante de amarelamento, a não ser em tintas muito claras submetidas a testes de condições extremas, que foram conservados em receptáculos fechados durante muito tempo, com ausência total de luz. Esses mesmos testes retornaram a ter a cor original do pigmento depois de submetidos a claridade abundante, após poucas horas. Para evitar quaisquer problemas futuros, é aconselhável usar o óleo polimerizado para mediuns que serão misturados em tintas claras, e reservar o uso do óleo de sol somente para tintas escuras. A combinação do óleo de linhaça comum e do óleo polimerizado deixam a receita equilibrada, retirando parcialmente as marcas de pincel, suavizando a expressividade das marcas.

6.3. Nº 3 Medium para Veladuras 
1 parte de Terebintina (ou outro solvente)
2 partes de Óleo de Linhaça Polimerizado ou Espessado ao Sol.
½ parte de Verniz Damar (ou Verniz Mastíque)

Alguns pintores trabalham em camadas, muitas vezes usando inúmeras veladuras, que constituem-se por finas camadas de tinta sobrepostas. É uma técnica delicada, onde há o risco de uma camada não aderir a anterior, fenômeno que os restauradores americanos denominam “bead up” ou “beading up”: uma situação semelhante é quando um carro é lavado e a água escorre formando gotículas que não se espalham a superfície da pintura, o mesmo ocorre em alguns pisos quando a chuva se acumula em gotículas. Isso acontece pois a superfície se encontra extremamente lisa, como não há poros suficientes para o líquido se alojar nessa superfície. É um fenômeno que não ocorre na pintura alla prima, pois a mesma é feita com quantidades muito maiores de tinta. Uma das funções da resina é a de conferir maior poder de adesão ao medium, contornando esse problema. Existem dezenas de diferentes resinas usadas na pintura. Entre as mais populares, temos a resina Damar e a resina de Mastíque. O verniz Damar é um verniz antigo, amplamente usado em todo o mundo, devido a sua boa transparência e poder de adesão. É feito com a resina natural das árvores da família Dipterocarpaceae, encontrada em várias partes do oeste da Ásia e da índia. 

Resina Damar

De cor levemente amarelada e levemente turvo, não é um produto muito caro, e costuma ser comercializado no Brasil pela marca Acrilex. O verniz de Mastíque, hoje, raramente é encontrado devido a seu alto preço. Só é possível encontrá-lo (no Brasil) em lojas especializadas, e ainda assim, muitas vezes é necessário encomendá-lo. É feito a partir da resina extraída dos caules dos arbustos pistácia ientiscus, exportada principalmente da ilha de Chios, na Grécia, e está na lista das resinas moles (também existem resinas duras) mais nobres usadas na pintura. É praticamente incolor, e é consideravelmente mais elástico do que o verniz Damar, no entanto, todas as resinas ficam quebradiças e amarelam consideravelmente a longo prazo. Portanto, seja lá qual for a resina, recomenda-se usá-las em pequena quantidade, sempre aliadas a substâncias elásticas e flexíveis, como os óleos secantes, e nunca sozinhas. 

Resina Mastíque



Embora a maioria das fontes de informações (a maior parte muito antiga) indiquem que o Mastíque seja superior ao Damar, meus experimentos indicam que, a curto prazo, a diferença de cor entre ambas resinas, depois de secas, é quase imperceptível, principalmente quando usadas em cores escuras. Considero o Mastíque uma resina que só deveria ser usada quando necessário adesão e resistência de mobilidade em abundância, principalmente quando desejamos isso em tintas feitas de pigmentos muito claros, como o Branco de Titâneo, Amarelo Nápoles e o Azul Real. Para promover nessa receita a função adesiva, considero o verniz Damar um ingrediente bem mais econômico e mais do que adequado. A adição da resina acelera levemente o tempo de secagem da tinta. Esse medium é adequado para pinturas em camadas e para efeitos de veladuras.

6.4. Nº 4 Medium para Empastes 
1 ½ parte de Cera de Abelha Pura
1 parte de Terebintina (ou outro solvente)
¼ (ou menos) parte de Verniz Damar (ou Verniz Mastíque)

Também conhecido entre os pintores como “pasta de cera”, essa receita pode ser usada pura (misturada a tinta) ou ser adicionada a outras substâncias (veja receita Nº 5). Sua função principal é adicionar volume a tinta, criando uma “massa” que dá maior propriedade “moldável” a ela. É ideal para aqueles que desejam pintar de forma mais solta com empaste, e principalmente para trabalhos que fazem uso das espátulas de pintura ao invés do pincel, sendo possível criar efeitos expressivos muito interessantes. A cera endurece rapidamente, encurtando um pouco o tempo de secagem da pintura. É necessário aquecer levemente em fogo baixo a terebintina, e ir adicionando os pedaços de cera cortados em pequenos pedaços, até dissolvê-los. Com a mistura ainda morna, despeje num recipiente com tampa e deixe esfriar. A resina (verniz) pode ser misturada ao medium depois de frio.

Esse medium cria um brilho fosco quando comparado ao alto brilho resultante dos outros mediums que levam somente óleo ou resina. É importante ter em mente a regra dos 20%, pois o “filme” ou superfície plástica formada pelos óleos vegetais é muito mais elástica do que aquela formada pela pasta de cera, portanto, lembre-se que uma mistura contendo mais óleo (ou tinta) do que cera pode sobreviver melhor ás intempéries.Encontrei artistas que chamam a operação do uso dessa pasta com tinta a óleo como “encáustica fria”, embora pareça indevido o emprego desse termo. Apesar da encáustica fazer uso de cera, e de ser possível sua mistura com tinta a óleo, o termo encáustica se refere ao ato de queimar ou derreter com calor o material que será usado para pintar, tornando o termo “encáustica fria” uma contradição ou paradoxo. A adição de pasta de cera é simplesmente o emprego de uma carga inerte a pintura feita com tinta óleo, sendo que nesse caso, tanto o tempo de secagem quanto a natureza das cores provêem principalmente da tinta, e não da carga inerte. Essa mesma pasta também pode ser usada como verniz para acabamento de pinturas, no entanto, desconheço estudos científicos modernos que dêem um parecer mais detalhado sobre como as pinturas á óleo que usaram esse verniz envelheceram, sendo mais comum seu emprego em pinturas de têmpera a ovo. Para usá-la como verniz, basta aplicá-la com um pincel largo em várias camadas, e lustrá-la com um pano limpo e macio depois que estiver perfeitamente seca, esse verniz dá acabamento fosco a pintura.A pintura com adição de cera, mesmo após alguns anos, pode ser mais sucestível a temperaturas elevadas do que as pinturas que usam somente tinta a óleo, portanto, é recomendável maior cuidado e atenção com as pinturas que foram feitas com adição desse medium. 


6.5. Nº 5 
Medium “Veneziano” 

½ parte de Óleo de Linhaça
½ parte de Óleo de Linhaça Polimerizado ou Espessado ao Sol.
1 parte de Pasta de Cera
1 ou 1/2 parte de Terebintina (ou outro solvente)

Em muitas célebres fontes de informações sobre pintura, é comum encontrar citações sobre o recorrente uso da cera de abelha como agente inerte no medium da escola veneziana de pintura. Nem todo pintor veneziano fazia uso da cera de abelha, mas parece justo afirmar que essa escola promoveu abundante uso desse material. Esse medium leva uma pequena parte da pasta de cera (receita Nº 4), portanto o efeito de empaste e opacidade da cera é diminuído quando comparado ou uso exclusivo da pasta. Essa pequena quantidade permite alterar sutilmente o resultado expressivo da obra, mas ainda assim, sua principal característica é o modo como sentimos a tinta no pincel, difícil de se explicar, mas ele confere uma sensação mais “aveludada” a pintura, alterando principalmente o modo como “sentimos” o deslizar de tinta no pincel e como a mistura acontece na tela. Esse medium obviamente não fará ninguem pintar como os pintores de Veneza, e pode ser usado em qualquer estilo ou tipo de pintura.

Essa receita figura em algumas fontes confiáveis como o “legítimo medium do séc. 15”, no entanto, não há nenhum registro sobre a veracidade da afirmação, embora seja notório o uso da cera entre os venezianos. Acredito ser possível que uma mistura similar ou próxima fosse perfeitamente possível de ter sido usada por essa escola, desde que as substâncias incluídas aqui eram de fato conhecidas, usadas e muito comuns. O uso desse medium deixa a pintura final mais opaca e é muito usado para pintura de paisagens ao ar livre, assim como para a natureza morta, surtindo efeitos soltos e levemente empastados.

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BIBLIOGRAFIA
MAYER; Ralph; Manual do Artista; Martins Fontes; 1950; 1957 e 1970.
MOTTA, Edson; SALGADO, Maria; Iniciação a Pintura; Editora Nova Fronteira; 1976.
DOERNER; Max; The Materials of the Artist and Their Use in Painting; 1921.
BILLINGE, Rachel. \’Recent Study of Raphael’s Early Paintings in the National Gallery, London, with Infrared Reflectography\’. Raphael’s Painting Technique: Working Practices Before Rome. Nardini Editore, 2007.
EASTLAKE; Sir Charles Lock; Methods and Materials of Painting of the Great Schools and Masters; Dover; 1847.  

60 Comments

  1. Parabéns! Excelente matéria!Creio que nós, pintores, deveríamos nos aprofundar muito mais no estudo de técnicas e materiais. Com certeza produziríamos obras mais compensadas quimicamente.Abraço

  2. Parabéns, matérias como estas deveriam estampar o dia a dia de artistas, pintores e até restauradores de hoje.Aprofundar em pesquisas como estas é no mínimo inspirador. obridada por dividir uma matéria de tal monta.Abraço

  3. Gostaria de colocar uma breve observação a esse artigo. Muitos estudos provam que mediums exóticos e laboriosos são comumente o que deveríamos chamar de \”ouro dos tolos\”. A idéia basica desse artigo é apresentar mediums básicos, práticos e econômicos que sejam perfeitamente adequados para diversos efeitos e técnicas de pintura para qualquer pintor iniciante ou experiente. Existem inúmeras outras receitas e variações, mas todas as receitas apresentadas aqui podem promover funções muito próximas as de suas variantes mais exóticas. O intuito do artigo é descomplicar e não confundir a cabeça do leitor, assim como desmistificar informações encontradas em fontes duvidosas.Portanto, sim, o número de outras receitas é praticamente infindável, mas as receitas apresentadas aqui são o bastante para ir longe, sem complicar, gastar uma fortuna e ter basicamente… o mesmo!

  4. Esse artigo esclareceu muitos aspectos do uso do medium. Obrigada! Sou iniciante e estou na fase de teste do material (em outras palavras, estragando telas! rsrsrsr). Usei a mistura de 2 partes de oleo de linhaça para uma de terebintina e notei que a pintura se tornou mais luminosa, em comparação às telas em que usei a terebintina (sim, eu era uma daquelas que usavam exclusivamente a terebintina para diluir a tinta!). Adquiri a resina de damar para preparar o medium para veladuras. Estou aguardando a chegada do material pelos correios, mas gostaria de saber se a resina se dissolve facilmente, se há necessidade de algum procedimento especial para o preparo. Aproveitando a oportunidade, existe aqui no site algum artigo a respeito d preparo de telas com gesso acrílico?Dese já agradeço e mais uma vez te parabenizo pelo excelente blog!Abraços,Luciana

  5. Olá novamente Luciana! Os mediums não possuem mistérios. Não é necessário nenhum Doutorado em química para produzir um medium! Existem muitas receitas mirabulantes por aí, mas acredite, os mais simples também funcionam, e até possuem menos contra indicações! Sem sombra de dúvida, usar somente terebentina não é lá nada saudável pra sua pintura! Fico contente que tenha mudado seu hábito!As resinas moles, como o Mastique e o Damar desmancham facilmente na terebentina. Não use o Ecosolv ou qualquer outro solvente inodoro. Se voce comprou o Damar em pedras, e não líquido, terá que fazer uma \”boneca\” de pano, com as pedras dentro e deixá-la pendurada sobre a terebentina com somente o fundo da boneca tocando o solvente. Preciso fazer um post sobre como fazer verniz!O post sobre bases para painéis é esse:http://www.cozinhadapintura.com/2010/12/diferencas-entre-bases-para-pintura.htmlUm abraço!

  6. Olá Márcio!Somente agora vi a tua resposta às minhas questões, desculpe por não ter agradecido antes!!!Muitíssimo obrigada pelas orientações! Comprei a resina em pedras, portanto vou reparar a tal boneca. rsrsrsQuanto ao post sobre preparação de paineis muito obrigada pela indicação, vou lê-lo agora!AbsLuciana

  7. Luciana, voce disse que é iniciante e que está testando materiais. Sugiro que ao invés de usar telas, use papéis cartões bem grossos. Voce pode prepará-los da mesma maneira que disse no post sobre painéis, mas sem o uso da encolagem de tecido. Pegue o papel cartão e faça uma encolagem com cola animal ou PVA, em seguida, use algumas mãos de gesso acrílico. São ÓTIMOS para estudos, e voce não precisará gastar muito. O único problema desse suporte é que ele costuma envergar depois de um tempo. Mas se usá-los somente para estudos, pode ser uma opção prática e econômica. Abraço!

  8. Oi Márcio! Excelente dica!!! Uma professora tinha me indicado algo similar, o eucatex. Mas com certeza o uso do papel cartão será muito mais econômico!!! Cola PVA? (desculpe as perguntas tão elementares, mas esse é o meu nível mesmo… elementar!) não tenho cola animal e acho que não encontraria facilmente aqui em João Pessoa… Mais uma vez muito obrigada pela ideia!Abraços!

  9. Márcio, aproveitando a oportunidade, recebi a informação de que seria desaconselhável o uso de um medium com óleo de linhaça na primeira veladura da tela, pq o óleo poderia apodrecer o tecido, especialmente nas telas vendidas em lojas de arte/artesanato que não recebem o tratamento prévio adequado. A pessoa me orientou a fazer a primeira veladura unicamente com terebintina (o que eu já não faço mais, viu? rsrsrsrs) e, a partir da segunda, usar a mistura da terebintina, oleo de linhaça e verniz damar. A informação está correta? Realmente uso telas de qualidade inferior, por conta mesmo do preço e considerando que estou em fase de teste de material…Um grande abraço!

  10. Oi Luciana! O eucatex também é bom para estudos! A cola PVA também serve, preferivelmente com PH neutro. No entanto, a Cola PVA com PH neutro é difícil de encontrar e consideravelmente cara. Para o caso de estudos, use a cola PVA (Cola Branca, Cascorez) comum, mas saiba que a longo prazo não é o melhor dos materiais. Mas deve servir para conservar seus estudos pelo menos por 20 ou 30 anos em boas condições… Abraço.

  11. Luciana, na verdade, a encolagem (o ato de passar cola animal ou industrial no tecido), é uma maneira de impedir que o óleo chegue até o tecido. Por cima da encolagem, ainda temos as camadas de gesso acrílico, portanto, se usar a encolagem + o gesso, não terá problemas com a durabilidade do tecido.É fato que o óleo de linhaça, como todos os óleos vegetais, com o tempo, acaba \”atacando\” o tecido por causa da acidez do óleo. No entanto, todos os outros óleos possuem essa acidez. A encolagem e o gesso são suficientes para deixar a camada da pintur isolada do tecido.

  12. Oi Márcio, gostei muito do seu artigo, mas fiquei com uma dúvida: eu preparei um medium com 1 parte de secante de cobalto e 9 de óleo de linhaça. Essa proporção poderá me trazer algum problema?

  13. Tereza, se voce adiciona mais óleo de linhaça a sua tinta, ela demorará mais a secar. Se seu intuito era deixar a tinta mais líquida, use uma combinação de uma parte de óleo de linhaça, duas partes de terebintina e algumas gotas de secante.Dessa maneira, voce não terá tanto óleo nem secante em seu medium e deixará sua tinta mais líquida e com secagem mais rápida. Um abraço!

  14. Oi Márcio, a sugestão que voce me deu de fazer médium com linhaça(1) e terebentina(2), infelizmente náo serve para mim porque passo mal com terebentina. Se eu aumentar a quantidade de secante de cobalto, 20% ou 30% e o restante linhaça, haveria algum problema para a minha pintura?Abraços.

  15. Márcio, seu artigo é excelente e me ajudou bastante.Aproveitando a oportunidade, gostaria de saber se tenho que esperar 1 ano após a secagem para aplicar o verniz na tela.O verniz cristal é o aconselhado?Obrigada e abraços.

  16. Um ano é o mais indicado. Quanto mais impasto, mais tempo. Obras com grande quantidade de tinta devem esperar até mais do que isso. Obras com finíssimas quantidades de tinta, como pintura em camadas com poucos layers podem ser envernizados após seis meses.

  17. Os textos são muito esclarecedores, vou começar a usar o site cozinha da pintura e o blog como referências em meus trabalhos, sou amador ainda e gostaria de saber se têm cursos disponíveis como pintura em tela, moro no bairro de santana, ficaria bem viável para mim, sou aluno do Antonio Maués. Marcello Uema

  18. Marcio, por problema de tempo deixei secar a tinta na tela .Li numa publicação sobre pintura, que a camada de tinta colocada sobre outra camada já seca não consegue aderência.Há algum truque para conseguir essa aderência?

  19. Diria que a afirmação correta é que \”pode apresentar problemas de aderência\”, pois nem sempre o fenômeno ocorre. Nessas circunstâncias, use algumas gotas de resina para promover maior adesão.

  20. Boa noite.Como inicianta me surgiu uma boa duvida quanto ao medio. Existe uma \”receita\” com oleo de linhaça e secante de cobalto meio a meio, Vejo que tens mencionado um maximo (Ou ideal) de apenas 5% de secante, seria o caso tambem para esta mistura:95% oleo de linhaça e 5% de secante de cobalto, para fazer a mistura do medio ou seria 5% da mistura na tinta? (Utilizando a receita de medio a 50%) Agradeço sua resposta e parabeniso por esta exelente iniciativa com este blog.

  21. Olá Anônimo! Na verdade, em nenhum momento digo que a quantidade de secante deve ser 5%. Em diversos posts digo que a quantidade de medium colocado a uma porção de tinta deve ser de no máximo 20%, e adição de secante a esse medium deve ser apenas algumas gotas. No seu exemplo, o ideal seria 5% de secante NO MEDIUM, e não na porção de tinta, sendo o segundo, muito secante. Um abraço!

  22. MediumsSou iniciante. Estou no processo de pesquisa há 3 anos. Já estraguei várias telas. Mas, a pesquisa de hoje valeu a pena. Aprendi muito. Parabéns pela didática.Bento

  23. Leandro, basicamente, o filme ou película de linóleo formado pela pintura demora muitos meses para oxidar (\”secar\”). Enquanto a película oxida, ela muda de forma, expande e contrai. O verniz é uma resina vítrea que seca de forma dura e muito rápida. Se a sua camada de linóleo continuar se movendo abaixo da camada dura e seca de verniz, a camada dde cima se rompe, formando rachaduras. A película de linóleo só oxida em contato abundante com o ar, portanto, recomenda-se que se espere de 6 meses a um ano para envernizar. Quanto mais empastado é o trabalho, maior é o tempo de espera para se envernizar. Grande abraço!

  24. Olá, gostaria de saber, a proporção usada no preparo do medium, com terebentina, óleo de linhaça, verniz e secante de cobalto, pois, é o que uso nos meus trabalhos, só que esse medium eu compro pronto.

  25. Marcio, tenho uma duvida meio urgente. Fiz um pintura a óleo utilizando o quarte medium ensinado nesse artigo, com cera de abelha, verniz damar e terebentina. Utilizei bastante da mistura. O problema é que fiz a pintura em uma lona de algodão esticada em uma parede. Agora tenho que tirar da parede e esticar em um bastidor, porem tenho medo de danificar a pintura na hora de tirar da parede, transportar, ou reesticar no bastidor. Há alguma recomendação pra essa situação? E eu estico em um bastidor mesmo ou tem alguma forma de colar em um painel de madeira? A pintura tem 1,50×1,50 m. Muito obrigado.

  26. Caro Artur,Como escrito no artigo, embora seja comum artistas usarem esse medium em certa abundância, é melhor, em termos de conservação, usá-lo em menores quantidades, atendo-se a regra dos 20%. Idealmente, seria melhor usá-lo num painel rigído e não em tela. Recomendo que tire a tela com o maior cuidado possível, de preferência chame alguns colegas para ajudá-lo a retirar a obra da parede, para que a obra não dobre durante o processo. É possível colar o tecido com cola PVA com PH neutro, numa tábua de compensado naval. Também é melhor usar um chassi por trás do compensado para dar maior estabilidade. Grande abraço!

  27. Obrigado por compartilhar conosco pintores profissionais e amadores, importantes estudos e técnicas usadas, de como usar corretamente os médiuns, adicionarei essa matéria tão importante, aos meus estudos favoritos…..Grande abraços!

  28. olá Marcio, belo post muito esclarecedor,gostaria de saber se não for incomodo, sobre o oleo de linhaça polimerizado, procurei em todas as lojas virtuais e não consegui encontrar, o stand oil,só encontrei o da acrilex e corfix, sendo que entre as duas empresas nacionais eu prefiro a corfix,eu queria o da w&n,lefranc, lukas mas esta em falta, o da corfix seria bom como os outros?abraço.

  29. Achei seu site excepcional, com informações que não encontrei nem mesmo nos sites estrangeiros.Não querendo se aproveitar de sua perícia, mas já fazendo isso, você sabe de algum tipo de óleo mais fluído?Sabe se o óleo mineral causa problemas.A questão é porque não quero mais usar nenhum tipo de solvente.Sempre tive mania de diluir muito a tinta.Obrigado, seu site é fabuloso!!!

  30. O autor desse ensaio transparece o seu esforço no estudo da matéria, e nos seria muito útil se usasse o seu conhecimento e nos explicasse como diabos Degas, quando pintou as suas bailarinas, conseguiu a aderência dos pastéis ao papel. Há na Internet afirmativas vagas sobre a questão, e o próprio Edgar Hilario Germano Degas alertou, conforme texto de conhecimento restrito, a necessidade de os interessados estudarem o conhecimento dos antigos sobre a pintura. Ora em um momento no qual a máquina substitui o homem na Arte de produzir a pintura é um risco grande ocorrer a perda de tais conhecimentos, exceto se estudiosos como o autor desse ensaio os expuserem por escrito na Rede Mundial de Computadores.

  31. Olá Anônimo. Disconheço os materiais secos usados por Degas, portanto, não poderia responder sua pergunta. Estudei e ainda estudo as tecnologias de materiais de pintura, portanto o pastel nunca esteve nessa lista de estudo. O que sei é que Degas costumava colocar sua tinta a óleo em folhas de papel para que a tinta ficasse mais seca. Um grande abraço!

  32. Olá Márcio.Primeiramente queria dar os parabéns pela iniciativa pelas informações extremamente úteis. Gostaria de fazer uma pergunta: qual é a proporção de terebintina para dissolver a cera de abelha? Vi uma para vender que diz que é 3 pra 1, mas não diz se é 3 de cera ou de solvente.

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